domingo, 25 de janeiro de 2009

DOIS IRMÃOS – MILTON HATOUM



Por Ozimar Alves Cunha (Júnior)

Quem conhece A crônica da casa assinada de Lúcio Cardoso poderá sentir certa semelhança ao ler Dois irmãos. Reservadas as devidas proporções, os dois romances se aproximam ao narrarem a trajetória de uma família que se degenera juntamente com uma realidade que descamba para o seu cadafalso. Hatoum consegue descrever uma família manauara desde a sua formação até o seu desenlace final  ou quase final.
Zana e Halim são os patriarcas desta família. Halim é dominado pelo hedonismo e pelo comércio. Já Zana funcionará como ponto de flexão entre os personagens centrais, sempre divida entre o amor devotado a Halim e ao seu filho Omar. Yaqub e Omar são gêmeos, mas Omar é o caçula e devido à fragilidade da infância leva Zana cobri-lo de mimos.
O grande mote de Dois irmãos, como o título pode sugerir, é o conflito entre os dois gêmeos. Nem o nascimento de mais uma irmã: Rânia, nem a presença contínua de Domingas, espécie de filha adotiva ou criada de Zana conseguirá neutralizar as disputas entre os dois irmãos antípodas. O romance se desenrolará entre as disputas contínuas entre os dois: A paixão por uma mulher entre os dois irmãos que levará Omar a ferir o irmão no rosto. Yakup é quem sofre o castigo e é enviado para uma aldeia no Líbano. Existe ainda o conflito entre as personalidades dos dois: Yaqub se tornará bacharel, enquanto o caçula Omar levará a farra e os calotes as últimas conseqüências. Rânia terá o papel de hiato dentro da história, decidida ao não se casar, ela cultua a imagem mitificada de um homem  meio Omar, meio Yaqub  que a tornará uma solteirona. Dominga dará a luz ao filho Nael  nome também do pai de Halim. Nael é o narrador de Dois irmãos que faz da narrativa um expurgo na tentativa de descobrir quem seria o seu pai  Yaqub ou Omar?
O narrador Nael conduzirá a história até o seu desfecho, sempre pontuando a devoção de Zana e Rânia pelo caçula. O isolamento de Yaqub em São Paulo com sua esposa (a dita mulher fruto da desavença entre os gêmeos na infância) e o sofrimento de Domingas e seu filho como coadjuvantes desta história que se passa numa Manaus em desenvolvimento e em pleno regime militar.
Dois irmãos foi eleito o melhor romance brasileiro escrito nos últimos quinze anos e já foi publicado nos Estados Unidos, Alemanha, Inglaterra, Holanda, França, Portugal, França, Itália, Espanha, Líbano e Grécia.



TRECHO:
“Lembrava - ainda me lembro - dos poucos momentos em que eu e Yaqub estivemos juntos, da presença dele no meu quarto, quando adoeci. Mas bem antes de sua morte, há uns cinco ou seis anos, a vontade de me distanciar dos dois irmãos foi muito mais forte do que essas lembranças.
A loucura da paixão de Omar, suas atitudes desmesuradas contra tudo e todos neste mundo não foram menos danosas do que os projetos de Yaqub: o perigo e a sordidez de sua ambição calculada. Meus sentimentos de perda pertencem aos mortos. Halim, minha mãe. Hoje, penso: sou e não sou filho de Yaqub, e talvez ele tenha compartilhado comigo essa dúvida. O que Halim havia desejado com tanto ardor, os dois irmãos realizaram: nenhum teve filhos. Alguns dos nossos desejos só se cumprem no outro, os pesadelos pertencem a nós mesmos.”

quarta-feira, 7 de janeiro de 2009

MAIS UMA VEZ... ?


Observo as coisas, cético
não na descrença
mas na crença
nada no estremo
nada na borda
tudo se arriscando
sem ser absoluto
mas também sendo algo
ceticismo ao observar
ao saber que o homem
estar preso à liberdade
ao livre-arbítrio forçado
na idiotice que é ser animal
no sublime que é viver
sabendo apenas de algo
do único algo palpável
e que nunca pegaremos:
a morte
há um absoluto
mesmo que desmistificado
solto na racionalidade
preso na consciência
fruto singelo do inconsciente.

Não sou utópico
não sou anjo da salvação
não tenho poder nem para mim
mas não sei nada em absoluto
nem primo ser alienado.
(14/06/03)
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