sábado, 4 de abril de 2009

Pu[ri/tri]ficação: Poesias e Cataclismos



Depois de mais de 15 anos escrevendo poesia, finalmente tive a oportunidade de publicar um livro. Trata-se de uma coletânea de toda a minha produção poética. Depois de uma seleção acurada consegui chegar a um apanhado do que “melhor” fui capaz de poetizar. Esta coletânea se chamará PU[RI/TRI]FICAÇÃO: Poesias e Cataclismos. Quem se interessar em comprar o livro, acesse
http://clubedeautores.com.br/book/1217--Puritrificacao

Ozimar Alves Cunha Júnior




sábado, 21 de março de 2009

ORO MALSPRITA


nem todos percebem o sensível
e eu penso cada vez mais nisso
lá fora existem coisas além de nossa visão

o cosmo caminha para o seu fim (início)
não percebemos nada de estranho
nos contentamos com um palmo após o nariz
não existe somente o nosso umbigo

preocupo-me com o caos, o cosmo
pois eles são comigo
não posso entender o artista
sem compreender a arte
as metáforas não são tão longas como parecem


um dia os homens se verão desesperados
toda a compreensão estará perdida
o sensível estará ao alcance de todos
mas infelizmente o fim terá chegando

Creative Commons License
ORO MALSPRITA by Ozimar Alves Cunha is licensed under a Creative Commons Atribuição-Uso Não-Comercial-Vedada a Criação de Obras Derivadas 2.5 Brasil License.

domingo, 15 de março de 2009

FILO-SOPHIA


Vejo Fortaleza pela janela de um hospital. São 23h e as ruas já não estão cheias de carros. As luzes dos prédios colorem a noite. Com poucas horas de vida dentro do quarto esta minha pequena filhinha. Confesso que estou meio anestesiado. Acho que as luzes fortalezenses são as únicas capazes de me entenderem neste momento. Terei finalmente o direito de levar ad infinitu minhas células. Conscientemente isso pouco importar para mim, estou ansioso em educá-la, em mostrar a ela a beleza do universo literário, matemático e filosófico. Mostrar a ela a precariedade da vida, mas que por outro lado é possível viver bem, mesmo dentro deste cenário. Neste momento tudo que posso ver do mundo é um quadrado da gigantesca Fortaleza bela. Sinto a brisa marítima no meu rosto e isto me lembra quanto sonhei este momento.
Não possuo nenhuma idéia clara do que possa ser educar alguém. Na verdade educar é um termo tão vago que o seu uso é largo demais. No entanto algo deve ser planejado. A urgência do sono me faz pensar que minha filinha talvez nem precise muito de minhas conjecturas. Na verdade quem precisa delas sou eu mesmo. Eu e minha logicidade filosófica é que tentará prever tudo.
Minha filinha chora e acordo do meu sonambulismo frente aos prédios fortalezenses. Acordo para uma nova vida. Uma nova vida que necessita de mim muito mais. Sei que romantizo a maioria das coisas que faço, mas creio que finalmente chegou o momento certo de romantizar. Minha filinha necessita de um pai lúcido o suficiente para guiá-la rumo ao desconhecido. Um pai capaz de saber que sua filha não é uma extensão de seus pais, mas um ser que crescerá para ser livre.
Acho que devo agora parar de conjecturar.
Creative Commons License
FILO-SOPHIA by Ozimar Alves Cunha is licensed under a Creative Commons Atribuição-Uso Não-Comercial-Vedada a Criação de Obras Derivadas 2.5 Brasil License.

O Mundo de Sofia - Jostein Gaarder




Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.

O Mundo de Sofia (Sofies verden em norueguês) é um romance escrito por Jostein Gaarder, publicado em 1991. O livro foi escrito originalmente em norueguês, mas já foi traduzido para mais de 50 línguas, teve sua primeira edição em português em 1995, que atualmente se encontra em sua 61ª reimpressão. Somente na Alemanha foram vendidos 3 milhões de cópias.

O livro funciona tanto como novela, como um guia básico de filosofia. Também tem temas conservacionistas e a favor da ONU. Em 1999, foi adaptada para um filme norueguês; entretanto, não foi largamente publicado fora da Noruega. Esse filme também foi apresentado como uma minissérie na Austrália, se não em outros lugares. Também foi adaptado para jogo de PC pela Learn Technologies em 1998.

Sinopse
Às vésperas de seu aniversário de quinze anos, Sofia Amundsen começa a receber bilhetes e cartões postais bastante estranhos. Os bilhetes são anônimos e perguntam a Sofia quem é ela e de onde vem o mundo em que vivemos. Os postais foram mandados do Líbano, por um major desconhecido, para uma tal de Hilde Knag, jovem que Sofia igualmente desconhece.

O mistério dos bilhetes e dos postais é o ponto de partida deste fascinante romance, que vem conquistando milhões de leitores em todos os países em que foi lançado. De capítulo em capítulo, de "lição" em "lição", o leitor é convidado a trilhar toda a história da filosofia ocidental - dos pré-socráticos aos pós-modernos -, ao mesmo tempo em que se vê envolvido por um intrigante thriller que toma um rumo surpreendente.

Trama
Info Aviso: Este artigo ou seção contém revelações sobre o enredo (spoilers).
Sofia Amundsen (Sofie Amundsen, na versão norueguesa) é uma garota de quatorze anos que vive na Noruega em 1990. Ela mora com sua mãe, o seu gato Sherekan, seu peixe-dourado e uma tartaruga. O seu pai é capitão de um navio petroleiro e fica fora a maior parte do ano. Ele não aparece no livro.

A vida de Sofia é chacoalhada no começo do livro, quando ela recebe duas mensagens anônimas pela caixa de correio. Uma das mensagens era com a pergunta "Quem é você?" e a outra questionava "De onde vem o mundo?" Ela recebe também um cartão postal endereçado à "Hilde Møller Knag a/c Sofia Amundsen". A partir de então, ela passa a receber gradativamente um curso de filosofia por correspondência.

Através dessas comunicações misteriosas, Sofia se torna aluna de um filósofo, Alberto Knox, de cinqüenta anos. No começo ele é totalmente anônimo, mas conforme a história se desenrola ele revela cada vez mais sobre si. É ele quem escreve os papéis e os pacotes, mas não os cartões postais que endereçados de alguém chamado Albert Knag, um major de uma unidade das forças de manutenção da paz da ONU no Líbano.

Alberto ensina à Sofia sobre a história da filosofia. Ele revisa de uma forma que fosse de fácil compreensão o que é de mais importante desde os Pré-socráticos passando por Jean-Paul Sartre. Ao longo das lições filosóficas, Sofia e Alberto tentam lograr o misterioso Albert Knag. Albert aparenta ter poderes equiparados aos de Deus, deixando Alberto irritado.

Sofia aprende filosofia medieval em uma igreja gótica com Alberto vestido como monge e aprende sobre Jean-Paul Sartre e Simone de Beauvoir em um café francês. Várias questões filosóficas e métodos de raciocínio são postos diante de Sofia, enquanto ela se esforça para resolve-los a sua maneira. Muitos dos pacotes filosóficos de Alberto são precedidos de perguntas diretas como "Por que o Lego é o brinquedo mais inteligente do mundo?"

Misturado às lições filosóficas, há um enredo normal semelhante a um romance para adolescentes, no qual Sofia interage com sua mãe e suas amigas. Albert Knag continua a interferir na vida de Sofia e Alberto a ajuda a lutar contra isso ensinando a ela tudo o que ele sabe sobre filosofia. Essa, ele explica, é a única maneira de entender o mundo em que ela vive.

Tudo isso vem acompanhado de acontecimentos que parecem cientificamente impossíveis, como conseguir ver a própria imagem no espelho piscar com os dois olhos ou ver de verdade Sócrates e Platão. Por ser um livro baseado em filosofia, entretanto, promete (e cumpre) explicar tudo no final, quando Sofia e Alberto Knox escapam de Albert Knag.

A explicação é que Albert Knag é o autor de um livro chamado "O Mundo de Sofia", onde Sofia e Alberto são dois meros personagens. Ele dá esse livro à Hilde como presente de aniversário. O autor faz com que seus personagens tomem consciência de sua condição e baseado em conhecimentos filosóficos Sofia e Alberto são capazes de transcender a própria realidade do "autor". "O mundo de Sofia" é um exemplo de metaficção.

Fronteiras do Universo - Philip Pullman



A Bússola de Ouro:

De tempos em tempos surge um escritor cujo impacto é tão extraordinário que marca a imaginação de toda uma geração. Foi assim com Lewis Carrol, foi assim com Tolkien. Nos anos 90, este escritor é o inglês Philip Pullman, autor de A Bússola de Ouro. Traduzido em mais de 17 idiomas, o romance vem conquistando leitores e a crítica especializada por onde passa. Primeira parte da trilogia "Fronteiras do Universo", já rendeu ao autor os prêmios The Guardian Children's Fiction Prize e Carnegie Prize e a indicação da Publishers Weekly como o melhor livro de 1996 para público jovem. Numa narrativa envolvente, Pullman conduz o leitor a um mundo mágico. Acompanhando a jovem Lyra, que se lança numa busca desesperada e enfrenta terríveis obstáculos quando seu amigo Roger desaparece, o escritor nos apresenta um universo de fantasias onde os daemons correm pelas ruas de Oxford e Londres...onde um redemoinho de poeira misteriosa está por toda parte, tornando possível às crianças conhecerem segredos que os adultos dariam tudo para desvendar.

A Faca Sutil:

Ansiosamente esperado pelos leitores de "A Bússola de Ouro", chega ao mercado brasileiro A FACA SUTIL, segundo volume da trilogia "Fronteiras do Universo", de Philip Pullman, publicada pela Objetiva. A série, que conquistou fãs ardorosos em todo o mundo, assim como a crítica (A FACA SUTIL foi escolhido Livro do Ano no Reino Unido em 1998), faz jus à melhor literatura calcada em imaginação férica e emoções fortes - é uma aventura que acelera o coração. Neste volume, Will tem apenas 12 anos e tudo começa quando, depois de matar um homem, ele parte para descobrir a verdade sobre o desaparecimento de seu pai. Num passe de mágica, atravessa o ar e penetra num mundo onde conhece uma estranha garota, Lyra, que, como ele, também tem uma missão a cumprir. Em Cittàgazze, onde os dois se encontram, as ruas são habitadas por espectros letais, devoradores de almas e outras criaturas aterradoras que disputam com todas as forças um poderoso talismã, capaz de cortar o nada e abrir brechas para outros universos: a faca sutil. Os dois primeiros livros da trilogia de Philip Pullman foram traduzidos para 18 línguas e já são considerados um clássico da literatura. "A Bússola Dourada" recebeu a medalha Carnegie, o Prêmio de Ficção do Guardian e foi eleito o Livro do Ano na Grã-Bretanha em 1997.

A Luneta Âmbar:

A LUNETA ÂMBAR é o esperado último volume dessa trilogia. Em janeiro de 2002 recebeu o Whitbread book of the year, o mais importante prêmio literário britânico. Foi a primeira vez que um escritor infanto-juvenil vence o Whitbread. A Luneta Âmbar também foi considerado o melhor livro de 2001, pela imprensa londrina. Da coleção Fronteiras do Universo fazem parte, ainda, A bússola de ouro e A faca sutil, ambos editados pela Objetiva. Lançados em primeira mão na Inglaterra, os três tomos alcançaram rapidamente a lista dos mais vendidos na Europa, EUA e Canadá, inundando livrarias com seus personagens fantásticos, universos paralelos, vilões, heróis e estrelados pela menina Lyra. Especialista em literatura infanto-juvenil, escritor e profundo conhecedor dos livros de mitologia, fábulas e aventuras mágicas, Philip Pullman desenvolveu um estilo arrebatador tanto para jovens quanto para adultos. Pullman não subestima o público infanto-juvenil. Sua obra foge do desbotado mote Bem x Mal e seus enredos primam pela ousadia dos temas, entrelaçando religião, criação, evolução, morte, pecado, física cósmica, autoridade e liberdade a serviço da imaginação e da literatura de qualidade.

A Insustentável Leveza do Ser - Milan Kundera



texto integralmente retirado de: http://www.lendo.org/a-insustentavel-leveza-do-ser-milan-kundera/

A incontrolável sede de viver…
Este espetáculo de livro eu li faz tempo, mas conheci muita gente que simplesmente leu duas e até três vezes. Reler um livro soa meio que como um mito. Mas não é não, concordam?
Há livros que simplesmente devem ser lidos mais de uma vez. Nesta obra-prima de Kundera — A Insustentável Leveza do Ser — , além de visitarmos a cidade de Praga (invasão russa em Tchecoslováquia), temos a especialíssima companhia de personagens incríveis, e também de Nietzsche, Parmênides de Eléia, Sartre e o mais maravilhoso: temos vez por outra o próprio escritor a nos fazer companhia, conduzindo-nos sabiamente pela filosofia, explicando-nos a realidade sinistra de sua história, que se passa em 1968.
O livro foi publicado em 1984 e talvez muitos de vocês tenham assistido ao maravilhoso filme de Fhilip Kaufman, que levou o título de The Unbearable Lightness Being. Trata-se de um romance aparentemente comum, contando a história de Tomas e Tereza e o cenário, o ano - 1968 - tudo contibui fantasticamente para surgir uma que é, sem dúvida, uma das maiores obras-primas de todos os tempos, no quesito literatura-filosófica-história-romance.
Bom, o gênero romance é apenas a âncora para Kundera por em questão a filosofia pré-socrática de Parmênedes que dissertava sobre a relação peso/leveza. Segundo o filósofo, a problemática estava na dualidade do Ser, onde afirmava que esta dualidade surge da presença e da ausência de entidades. Por exemplo, o frio é apenas a ausência de calor, as trevas são a ausência de luz, então, embora estejamos acostumados com o novo pensamento lógico da vida, para este filósofo a relação leveza/peso afirma o peso como ausência, como não não-leveza.
A partir desta teoria (530 a.C - 460 a.C), Kundera constrói Tomas, um personagem que se recusa a carregar o peso da vida, vivendo sem nenhum compromisso com quaisquer problemas sejam de ordem política, nas relações amorosas, enfim, o personagem escolhe ser “leve”, ou seja, livre. Mas Kundera nos leva aos poucos à meditação Nietzscheana, quando pondera sobre o Eterno Retorno, teoria que prevê o angustiante vazio para quem assume levar uma vida linear, longe de buscas e aventuras.
Segundo Nietzsche a vida é um eterno retorno, porque precisamos, temos a obrigação de errar e voltar a errar quantas vezes for necessário desde que não cometamos o primário erro humano de levarmos uma vida dentro de um ciclo de mesmices. Esta teoria de Nietzsche nos convence, em suma, a levarmos uma vida de liberdade, uma vida que valha a pena ser vivida.
Trata Kundera, ainda, da questão da Compaixão, sob o aspecto filosófico das línguas germânicas e latinas, Kundera discute a partir dos significados. Através da história, vemos que Compaixão nada mais é que um terrível sentimento de superioridade de um indivíduo sobre o outro que sofre. E na incapacidade egoísta deste indivíduo superior de sentir a dor do outro, faz com que o outro sofra duas vezes sua dor. Kundera utiliza-se desta metáfora para construir a relação de Tomas com Teresa, porque Teresa é uma moça simples, do Interior, enquanto Tomas é um rapaz rico, médico renomado e muito bonito. Mas ainda existe Sabina, mulher com quem Tomas mantém uma realação amorosa de liberdade longe dos padrões pré-estabelecidos. Esta mulher é como se fosse a versão feminina do personagem.
É um livro gostoso de ler, vocês terão a companhia do próprio Kundera que se retira da narrativa muitas vezes para passar para o leitor em que terreno filosófico ele está pisando, na forma de rodapés, no decorrer da história. Fantástico. Obrigatório, porque considero uma pena não termos acesso a Parmênedes, Nietzsche e Sartre. Mas não há mais desculpas, é só ler A Insustentável Leveza do Ser, de Milan Kundera e através de uma história de romance que se passa em Praga, em plena invasão russa e tenho certeza que este é um tipo de livro que muda nossa vida, desses que, como disse no início lêem-se mais de uma vez. É o que pretendo fazer esta semana. Reler A Insustentável Leveza do Ser.
Trechos do livro:
Um sobre o outro, eles cavalgavam juntos. Iam juntos em direção às distâncias desejadas. Atordoavam-se numa traição que os libertava. Franz cavalgava Sabrina e traía sua mulher, Sabrina cavalgava Franz e traía Franz.
Teresa voltou para casa mais ou menos a uma e meia da manhã, foi ao banheiro, enfiou um pijama e deitou-se ao lado de Tomas. Ele dormia. Inclinada sobre seu rosto, na hora de aproximar os lábios, sentiu em seus cabelos um cheiro estranho. Mergulhou longamente as narinas. Ficou cheirando-o como um cachorro e acabou compreendendo: era um cheiro feminino, cheiro de sexo.
Durante uns vinte anos, sua mulher fora para ele a encarnação de sua mãe…

A Sombra do Vento - Carlos Ruiz Zafón



texto integralmente retirado de: http://www.editoras.com/objetiva/604-9.htm

Em meio à profusão de títulos lançados a cada ano no mercado editorial, poucos conseguem conquistar ao mesmo tempo o público e a crítica. A Sombra do Vento, de Carlos Ruiz Zafón, é uma dessas raridades. Por mais de 60 semanas na lista dos livros mais vendidos da Espanha, onde seu sucesso o fez ser considerado um verdadeiro fenômeno literário, o romance repetiu o êxito na edição alemã, que vendeu 100.000 exemplares no primeiro mês, e já conquistou a crítica dos Estados Unidos, onde acaba de ser publicado neste mês de abril. Ao todo, o livro teve 850.000 exemplares impressos nas diversas edições e seus direitos de tradução foram vendidos para 17 países, além de ter sido finalista dos prestigiosos prêmios literários espanhóis Fernando Lara 2001 e Llibreter 2002.

A Sombra do Vento é uma narrativa de ritmo eletrizante, escrita em uma prosa ora poética, ora irônica. O enredo mistura gêneros como o romance de aventuras de Alexandre Dumas, a novela gótica de Edgar Allan Poe e os folhetins amorosos de Victor Hugo. Ambientado na Barcelona franquista da primeira metade do século XX, entre os últimos raios de luz do modernismo e as trevas do pós-guerra, o romance de Zafón é uma obra sedutora, comovente e impossível de largar. Além de ser uma grandiosa homenagem ao poder místico dos livros, é um verdadeiro triunfo da arte de contar histórias.

Tudo começa em Barcelona, em 1945. Daniel Sempere está completando 11 anos. Ao ver o filho triste por não conseguir mais se lembrar do rosto da mãe já morta, seu pai lhe dá um presente inesquecível: em uma madrugada fantasmagórica, leva-o a um misterioso lugar no coração do centro histórico da cidade, o Cemitério dos Livros Esquecidos. O lugar, conhecido de poucos barceloneses, é uma biblioteca secreta e labiríntica que funciona como depósito para obras abandonadas pelo mundo, à espera de que alguém as descubra. É lá que Daniel encontra um exemplar de A Sombra do Vento, do também barcelonês Julián Carax.

O livro desperta no jovem e sensível Daniel um enorme fascínio por aquele autor desconhecido e sua obra, que ele descobre ser vasta. Obcecado, Daniel começa então uma busca pelos outros livros de Carax e, para sua surpresa, descobre que alguém vem queimando sistematicamente todos os exemplares de todos os livros que o autor já escreveu. Na verdade, o exemplar que Daniel tem em mãos pode ser o último existente. E ele logo irá entender que, se não descobrir a verdade sobre Julián Carax, ele e aqueles que ama poderão ter um destino terrível.

Em sua busca de início aparentemente inocente, Daniel acaba adentrando os mistérios e segredos mais obscuros de Barcelona, e conhece uma galeria de personagens que vão ajudá-lo a resolver o mistério de Carax. Dom Gustavo Barceló, célebre livreiro barcelonês, seriamente interessado em comprar o exemplar de A Sombra do Vento que Daniel lhe mostra; sua linda sobrinha cega, Clara Barceló, que revela a Daniel os primeiros elementos do mistério que cerca Carax e sua obra e por quem o menino se apaixona perdidamente; Fermín Romero de Torres, mendigo de passado glorioso e aguçado senso de humor que se tornará o maior aliado de Daniel na busca da verdade; Nuria Monfort, mulher triste que guarda em seu apartamento escuro um grande e doloroso segredo; e Javier Fumero, o cruel policial que também parece dedicar a vida a perseguir o fantasma de Julián Carax.

À medida que vai descobrindo mais sobre a vida de Carax, Daniel entende que o mistério de sua obra está de alguma forma relacionado à história de amor entre dois jovens do início do século: o próprio Carax, filho de um modesto chapeleiro, e Penélope Aldaya, filha de uma família da alta sociedade de Barcelona. E enquanto a cidade e seus personagens vão aos poucos lhe revelando os segredos e as conseqüências dessa história de amor do passado, o próprio Daniel também descobre o verdadeiro amor nos braços de Bea, irmã mais velha de seu melhor amigo Tomás Aguilar.

A Sombra do Vento usa o cenário grandioso de Barcelona, com suas largas avenidas, seus casarões abandonados, sua atmosfera gótica e espectral, para ambientar um romance arrebatador que é também uma reflexão sobre o poder da cultura e a tragédia do esquecimento. A busca de Daniel marca sua transformação de menino em homem, e desperta no leitor um fascínio renovado pelos livros e pelo poder que eles podem exercer. Ao ler A Sombra do Vento, o desejo que se tem é de, assim como o menino Daniel, abrir as portas do Cemitério dos Livros Esquecidos e descobrir em seus infindáveis corredores o livro que mudará nossas vidas.

Carlos Ruiz Zafón nasceu em Barcelona, em 1964. Em 1993, ganhou o prêmio Ebedé de literatura com seu primeiro romance, O Príncipe da Névoa, que vendeu mais de 150.000 exemplares na Espanha e foi traduzido em vários idiomas. Desde então, publicou quatro romances e transformou-se em uma das maiores revelações literárias dos últimos tempos com A Sombra do Vento, finalista dos prêmios literários espanhóis Fernando Lara 2001 e Llibreter 2002. O autor vive há sete anos em Los Angeles, onde escreve roteiros para o cinema e trabalha em um novo romance. Zafón colabora também nos jornais espanhóis La Vanguardia e El País.

Desde muito jovem, Zafón já tinha o dom de inventar histórias e era conhecido por assustar os colegas de colégio com seus relatos tenebrosos. "Sempre fui fascinado pelo mundo dos robôs, das aparições, dos fantasmas, dos palacetes modernistas, dos túneis [...]. Na minha literatura, gosto de explicar histórias a partir de imagens, e misturo relato de intrigas, relato de aventuras, romance gótico e romance histórico não-realista. Acho tedioso dizer: ‘Fulano está triste.’ O que quero é fazer o leitor sentir a tristeza. Tecnicamente é mais complicado, mas dramaticamente tem mais força e é um desafio", diz o autor.

Ao mudar-se para os Estados Unidos, Zafón ficou chocado com "os enormes hangares cheios de livros antigos, verdadeiros tesouros, que estão virando supermercados e McDonald’s". "Noto uma destruição da memória e toda uma indústria da falsificação da história para justificar o presente", afirma ele. Essa preocupação do autor permeia a narrativa de A Sombra do Vento, ambientado em uma Barcelona ainda não atingida pela sociedade de consumo. Zafón justifica a ambientação de seu romance em meados do século "por se tratar de um momento histórico fascinante onde a cultura da banalidade ainda não estava tão desenvolvida, e onde os ideais ainda eram importantes".

domingo, 25 de janeiro de 2009

DOIS IRMÃOS – MILTON HATOUM



Por Ozimar Alves Cunha (Júnior)

Quem conhece A crônica da casa assinada de Lúcio Cardoso poderá sentir certa semelhança ao ler Dois irmãos. Reservadas as devidas proporções, os dois romances se aproximam ao narrarem a trajetória de uma família que se degenera juntamente com uma realidade que descamba para o seu cadafalso. Hatoum consegue descrever uma família manauara desde a sua formação até o seu desenlace final  ou quase final.
Zana e Halim são os patriarcas desta família. Halim é dominado pelo hedonismo e pelo comércio. Já Zana funcionará como ponto de flexão entre os personagens centrais, sempre divida entre o amor devotado a Halim e ao seu filho Omar. Yaqub e Omar são gêmeos, mas Omar é o caçula e devido à fragilidade da infância leva Zana cobri-lo de mimos.
O grande mote de Dois irmãos, como o título pode sugerir, é o conflito entre os dois gêmeos. Nem o nascimento de mais uma irmã: Rânia, nem a presença contínua de Domingas, espécie de filha adotiva ou criada de Zana conseguirá neutralizar as disputas entre os dois irmãos antípodas. O romance se desenrolará entre as disputas contínuas entre os dois: A paixão por uma mulher entre os dois irmãos que levará Omar a ferir o irmão no rosto. Yakup é quem sofre o castigo e é enviado para uma aldeia no Líbano. Existe ainda o conflito entre as personalidades dos dois: Yaqub se tornará bacharel, enquanto o caçula Omar levará a farra e os calotes as últimas conseqüências. Rânia terá o papel de hiato dentro da história, decidida ao não se casar, ela cultua a imagem mitificada de um homem  meio Omar, meio Yaqub  que a tornará uma solteirona. Dominga dará a luz ao filho Nael  nome também do pai de Halim. Nael é o narrador de Dois irmãos que faz da narrativa um expurgo na tentativa de descobrir quem seria o seu pai  Yaqub ou Omar?
O narrador Nael conduzirá a história até o seu desfecho, sempre pontuando a devoção de Zana e Rânia pelo caçula. O isolamento de Yaqub em São Paulo com sua esposa (a dita mulher fruto da desavença entre os gêmeos na infância) e o sofrimento de Domingas e seu filho como coadjuvantes desta história que se passa numa Manaus em desenvolvimento e em pleno regime militar.
Dois irmãos foi eleito o melhor romance brasileiro escrito nos últimos quinze anos e já foi publicado nos Estados Unidos, Alemanha, Inglaterra, Holanda, França, Portugal, França, Itália, Espanha, Líbano e Grécia.



TRECHO:
“Lembrava - ainda me lembro - dos poucos momentos em que eu e Yaqub estivemos juntos, da presença dele no meu quarto, quando adoeci. Mas bem antes de sua morte, há uns cinco ou seis anos, a vontade de me distanciar dos dois irmãos foi muito mais forte do que essas lembranças.
A loucura da paixão de Omar, suas atitudes desmesuradas contra tudo e todos neste mundo não foram menos danosas do que os projetos de Yaqub: o perigo e a sordidez de sua ambição calculada. Meus sentimentos de perda pertencem aos mortos. Halim, minha mãe. Hoje, penso: sou e não sou filho de Yaqub, e talvez ele tenha compartilhado comigo essa dúvida. O que Halim havia desejado com tanto ardor, os dois irmãos realizaram: nenhum teve filhos. Alguns dos nossos desejos só se cumprem no outro, os pesadelos pertencem a nós mesmos.”

quarta-feira, 7 de janeiro de 2009

MAIS UMA VEZ... ?


Observo as coisas, cético
não na descrença
mas na crença
nada no estremo
nada na borda
tudo se arriscando
sem ser absoluto
mas também sendo algo
ceticismo ao observar
ao saber que o homem
estar preso à liberdade
ao livre-arbítrio forçado
na idiotice que é ser animal
no sublime que é viver
sabendo apenas de algo
do único algo palpável
e que nunca pegaremos:
a morte
há um absoluto
mesmo que desmistificado
solto na racionalidade
preso na consciência
fruto singelo do inconsciente.

Não sou utópico
não sou anjo da salvação
não tenho poder nem para mim
mas não sei nada em absoluto
nem primo ser alienado.
(14/06/03)
Creative Commons License
MAIS UMA VEZ... ? by Ozimar Alves Cunha is licensed under a Creative Commons Atribuição-Uso Não-Comercial-Vedada a Criação de Obras Derivadas 2.5 Brasil License.