quinta-feira, 9 de outubro de 2008
POEMAS DA VELHA-NOVA TEMPORADA
FOICE CIBERNÉTICA (13/04/2007, sexta-feira pela noite)
celebremos os homens máquinas
os homens mecânicos
que vivem de vender o próprio espírito
os homens que sorriem dólares
e se esquecem do gozo antecipado
antes da última aurora boreal
celebremos o fingimento premeditado
a gargalhada planejada
o gole de cerveja subvertido
o insulto mal elaborado
vibremos mais um ser eliminado
por mais uma vitória garrida
guerreada a custo do suor alheio
exaltemos ao Deus por nós criado
mutilemos nosso senso com a foice
esqueçamos que o beijo torto
é a despedida da morte cruel
... eu ...
esqueço que agora vivo mais do que nunca
e isso me mostra que viver é angustiante
não porque é ruim em si
não, não é por isso
é porque viver é em essência isso
quem não sente assim
é porque vive uma vida fingida
ou então se prepara em silêncio
para o auto-cadafalso
exaltemos mais do que nunca
o gozo cibernético
e o mundo virtual
que de virtual só tem o nome
celebremos o futuro brilhante que nos espera
amemos nem que seja a custa de ódio
esta deve ser a fórmula mais simples
... tu ...
o anjo descerá com a foice amolada
colocara-la sobre o pescoço do acusador
muitos gritarão em desespero
os bons se arrependeram de assim procederem
os maus se arrependeram de não serem bons
e nós os imaculados
ah... nós fulgiremos
sumiremos pela porta lateral
enquanto a multidão eufórica
pratica a sua justiça cega
... nós ...
viva ao novo mundo
forjado por mãos perfeitas
filhas de um amanhã vindouro
esqueçamos que algo precisa ser esquecido
sintamos então o peso do fingimento
tão valioso para nossa existência
e que existência...!?
vaguidão é o meu lema
celebrarei o último adeus
e o primeiro suspiro da agonia
ENTORPECENTE HIPERBÓLICO (23/04/2007)
penso em me entender
em pensar em nos entender
ou compreender o propósito
de tudo isto que está aí
e que a explicação da explicação
não passe de fetiche barato
nem de paranóia coletiva
e isso já se configura
um vício na prova
é recorrente eu sei
mais parece que vivemos
preso à parábola do anzol
onde peixe e pescador são a mesma pessoa
sou físico-poeta
um filósofo-poeta
um matemático-poeta
um lunático-poeta
mas é que a beleza do desconhecido
fascina-me
muito mais que um copo de coca-cola
não há muito que fazer
o que refletir
o que sentir
o que perceber
eu sei
e essa sabedoria me aterroriza
e ao mesmo tempo me encanta
dar-me consciência
que a única consciência possível
é a fuga do consciente
não há outro meio
nenhum substrato da vida pode ser maior
do que a própria vida
sei que falo de redundâncias
mas a vida nos ensina quase nada
e nos contentamos com muito pouco
ou quase nada
e é isso aí que temos que fazer mesmo
já que não temos coragem de fugir
já que o paraíso é inferno
penso em me entender
meu entendimento é pouco
raquítico...!?
nós sabemos pouco sobre tudo
conhecemos a estrela Gama-1725
e a integral do cosseno hiperbólico
e não conhecemos o sorriso escondido
em nossas carrancas sérias
a fabricar compêndios de entorpecentes
a cada dia amanheço no desconhecido
por trás de cada suspiro
questiono-me sobre o porquê de estarmos aqui
de especificamente estar aqui
e me perdoem por não ser o melhor
a explicar tudo isso
não entendi muito bem a psicanálise quântica
e nem muito menos a física analítica
nem sou muito afeito a conviver com monstrinhos imaginários
COLÍRIO ALUCINÓGENO
prendo o barco na margem
o que falta além do ocular
me derramo sincero
já não tenho mais o que esconder
nunca tive o que esconder
pois o que está oculto
liberto se tornou pelo fato oculto
o que está suplantado
é sinal da hereditariedade
fruto de uma nova forma
de uma nova idéia
que não requer subjetividade
e não se submete ao caos
é algo que faço além
que não está antes e nem depois
e que no hoje nada é
é vida
e como tal é mistério
é simulacro de palavras
o mistério não está aqui
não está além do tudo
é apenas fluxo inconteste
é o Deus antes de si
é a natureza
em sua natureza mais primária
quase um arbítrio aleatório
ou um sentido semiótico
ou idiotice mesmo
ou uma interpretação contagiada
um fôlego cambaleante
sentimento de quem possui sonhos
e os frutos deste se esvaem
na certeza de que o real
é tão real
que transforma a ficção em real
e tudo se mescla num guisado
numa epilepsia santa
numa simulação da vida
despreocupada em sentir
despercebida do gozo
da saliência protuberante
do silvo que se insinua
do sexo açodado de sabor
e da eclosão nuclear
que transborda as barreiras
que gera nas linhas uma falácia
que não precisar ser arriscada
pois é risco certo
pois é vida antes da morte
pois é morte antes do óbito
e nada é tão desleal
e fiel a uma lógica
que foge aos conceitos matemáticos
pois pertence à vaga tradição
e não possui nenhuma intenção
e fere minha ilusão
tomara que o analgésico funcione
e eu consiga dormir
PINTURA SENOIDAL OU BELEZA ESQUIZOFRÊNICA
tenho urgência para sentir a vida
para ler todos os livros
para compreender toda a matemática
para entender a libido da poesia
para suplantar o não suplantável
só não tenho urgência com minha barba
não tenho muita fé com as ideologia
elas são muito alienantes
ideologia é uma idéia unitária
formada para ser dogma
tenho urgência com a urgência
sinto a dor dos meus como a minha
mas estou prezo num labirinto estético
numa variedade algébrica não-comutativa
ou numa pintura senoidal abstrata
o resto de mim vive
com esperança residual
minha sabedoria é estranha
vivo para isto
da teoria dos grupos
aprendi que grupos são “coisas”
e as coisas vão muito além
não sou mais o mesmo poeta
não busco mais amuletos
escrevo para me libertar
da incapacidade de [re]criar
não me contento em apenas aprender
o que adiantar saber pintar
para apenas reproduzir telas alheias
CALTERIZAÇÃO
é preciso ir além do além
sentir a vida sem medo
mesmo que o medo exista
é preciso saber amar
ou ser amado
nenhum dos lados da moeda
é fácil de ser assumida
aqui a probabilidade não funciona
pessoas como eu se prendem a si
se prendem a algemas virtuais
não têm coragem de ver muito além
mas o além é aqui
e eu sempre tento entender isso
goles de vinho
não devem ser levados a júri
nem emoções apresadas
nem sapere!
RESPINGOS DE SAL (17/04/2008)
o que eu posso dizer sobre o mar
sobre a água...
eles representam para mim Deus
a chuva é o melhor sinal
da existência de Deus
e o mar? E a chuva?
sinto a brisa do mar
e os respingos de chuva
vejo Deus entre o mar
o sal que não tem na chuva
olho entre os vidros do ônibus
respingos de uma chuva
lembro-me da sabedoria
da chuva-mar-sal-Deus
a chuva me leva a tristeza
a tristeza me leva a vida
o mundo me leva ao mar
assim a chuva me alerta
e eu vivo o mar-chuva
a dignificação da vida
dentro do meu mundo
existem diversos mundos
e entre um mundo e outro
existem diversos mundos
e cada mundo é maior
que o conjunto dos outros
cada mundo é um universo
SORTILÉGIOS NEGROS (21/06/2008)
o mundo é tão estranho quanto nós
e não sabemos muito sobre nada
nem sobre nós e nem sobre o mundo
o que sabemos é estrábico
(e mesmo assim sabemos muito)
o suficiente para sabermos
que nada já é o suficiente
para sabermos que nada lucramos
que a angústia é a única solução
e que a pedra filosofal não existe
assim como nunca existiu a ilusão
a vida é uma busca pelo não buscável
mas não é preciso se perder
afinal nada é tão sério
nada é tão final e letal
nada é tão banal como a banalidade
e nossas ilusões nos sorvem
como eu sorvo a loucura
santa loucura, insana
lá fora está o medo
está a loucura noturna
soturna em seus sortilégios negros
lá fora está a virgem
que segura seus seios com frescor
mas não sabe que o seu deus já passou
há muitos dias não jogo xadrez
não sei mais movimentar as peças
não brinco mais de ser deuS
o mundo é tão estranho
eu sou muito estranho
somos animais estranhos
bem que me avisaram
não beba da droga filosofia
ela te trará a sabedoria
e te devolverá a loucura
então santa virgem de seios carnudos
dei-me suas mãos e sigamos
nos perderemos na névoa poética
nos misturemos com o cheiro das vinícolas
[SEM TÍTULO]
o que é a loucura se não nossas próprias vidas
senão a sinestesia élfica que emula nossas idéias
senão o pendão que nos leva ao verdadeiro céu
não creio no provisório e irreal
mas acho ilógico toda forma de lógica
mesmo a lógica fundada na ilógica
o que é realmente a loucura?
o que é a vida?
o que é o mistério?
depois que inventaram a ciência
depois que deixaram a santa irracionalidade
somente sentimos sortilégio baratos
cremos em Deus e amuletos
com a mesma convicção que levamos à fogueira o mais frágil
da mesma forma que fazemos a guerra
da mesma forma que fazemos o amor
mas e a loucura?!
além dos pilares basilares
está cravado em frases mirakulosas
a santidade daqueles que assumem a loucura
que despertam para a noite divina
que vêem Deus como real criador
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